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Liz Gilbert

  • Foto do escritor: Luciana Rovay
    Luciana Rovay
  • 20 de jan. de 2018
  • 6 min de leitura

Atualizado: 21 de jan. de 2018

Lá vem ela novamente. Ela simplesmente surge regendo momentos de transformação interior que começavam a dar sinais e então vai me inspirando e me guiando pela estrada da mudança.

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Em 2007 eu estava estagnada na carreira no Turismo e depositava todas as minhas fichas da felicidade em ter um relacionamento que me “completasse”, (como se isso fosse possível... Ó, ilusão da juventude!) o que obviamente não acontecia. Nada dava certo, a cada semana eu me apaixonava por mais um rapaz “errado”, fazia todos aqueles jogos ridículos e perdia horas tentando interpretar o comportamento deles como se tudo tivesse a ver comigo (vergonha de contar isso, fato, mas quem nunca...).


Um dos momentos de lazer predileto já naquela época era passear pela Livraria Cultura folheando livros e gastando mais do que eu podia com eles. Foi então que dia desses encontrei “Comer, Rezar, Amar” num canto de prateleira, ainda desconhecido por aqui, capa atraente de cores neutras e embora a frase “Seja também a heroína de sua própria jornada” remetesse a autoajuda, tratava-se de uma história real de uma mulher que mergulhou no autoconhecimento e foi buscar a satisfação (e não a ilusória felicidade) em suas próprias experiências. E era uma história real.


Folheei, parei para ler um trecho aleatório e o diálogo dizia:

“- Mas eu o amava de verdade”.

- Grande coisa. Você se apaixonou por uma pessoa, e daí? Não entende o que aconteceu? Esse cara tocou um lugar do seu coração mais profundo do que você pensava que era capaz de alcançar. Em outras palavras, você foi fisgada, menina. Mas esse amor que você sentiu foi só o começo. Isso é só o amor mortal, limitado, café com leite. Espere para ver como você é capaz de amar mais profundamente do que isso. Nossa, Sacolão... você tem a capacidade de um dia amar o mundo inteiro”.


Depois disso as personagens discorrem sobre almas gêmeas, aliás, numa teoria muito interessante mas que não vou reproduzir aqui para não alongar demais o texto e também porque foi esse pedacinho aí de cima que chamou realmente a minha atenção. O romance tinha viagem e reflexões, tudo o que me interessava. Levei para casa.


Ao longo dos dias de leitura foi ficando cada vez mais claro que eu tinha que tomar as rédeas da minha vida, tomar decisões, fazer planos e correr atrás da minha satisfação independente se alguém apareceria para me acompanhar ou não. A nossa alegria e amor pela vida não deve ser relativa, não pode depender do externo e se não assumirmos o protagonismo, nada vai acontecer. Foi então que eu listei tudo o que queria fazer, desenhei o estilo de vida que eu queria para mim e fiz um plano com objetivos a serem alcançados, média de tempo e o que eu precisava fazer para acontecer.


A primeira questão que se mostrou óbvia era a necessidade de mudança profissional. Eu precisava de um novo desafio, sabia como queria viver mas não sabia que trabalho estava relacionado aquilo.


Procurei teste vocacional e terapia para ajudar a encontrar meu dom e o resultado era sempre muito aberto, eu tinha muitos interesses e habilidades que serviriam para muitas coisas, mas nada chamava a atenção, eu não parecia ser um gênio em nada. Uma verdadeira geminiana, certo? Optei então pela praticidade e listei as habilidades que tinha e que estavam “frescas” e listei onde podia utilizá-las. Tinha experiência em atender clientes, já falava inglês e me virava muito bem no espanhol, tinha facilidade para entender e lidar com toda a burocracia de viagens (documentos necessários, trâmites para tirar vistos, etc) e facilidade para lidar com pessoas de outras culturas. Porque não trocar o trânsito de pessoas por carga?


Plano definido. Verifiquei minhas economias, compartilhei o plano com meus pais afinal o suporte deles era primordial naquele momento (e se desse tudo errado?), me matriculei na pós-graduação para Comércio Exterior, pedi demissão da agência de viagens onde trabalhava e parti para procurar emprego em qualquer empresa que fizesse importação ou exportação. Encontrei trabalho em duas semanas em uma pequena distribuidora de material hospitalar de administração familiar e comecei a trabalhar como analista de vendas. Em pouco tempo, sendo a única funcionária (exceto pelos donos) que falava inglês, logo comecei a ajudar a pessoa que cuidava das importações. O salário era curto mas eu precisava acumular experiência e me dedicar aos estudos. Era o início do meu protagonismo na carreira.


Dez meses depois fui desligada da empresa por uma série de acontecimentos que haviam ocorrido no último mês e que vou deixar para comentar em outra história qualquer hora dessas. Fato é que o desligamento me pegou de surpresa, eu esperava completar um ano nessa empresa antes de procurar uma colocação em uma empresa maior e melhor. E aí você me pergunta, como é que fica o protagonismo quando somos afetados por acontecimentos externos, hein, queridinha?


É exatamente aí que o protagonismo tem que acontecer! Como é que você vai lidar com o que te acontece? O que vai fazer a respeito? Vai sentar e choramingar ou tomar uma atitude?


Felizmente optei pela segunda alternativa e ajustei o plano que consistiu nas seguintes ações.


Ajustar as finanças. Era preciso diminuir gastos e fazer o dinheiro da rescisão durar o máximo possível. Revisei todos os gastos fixos e variáveis na ponta do lápis, ajustando o dia-a-dia. E já que teria tempo agora, me dediquei a um projeto da faculdade que poderia me render uma bolsa de estudos reduzindo a mensalidade da pós-graduação pela metade. Tinha mais de um ano de curso pela frente, portanto a redução da mensalidade seria uma ótima oportunidade. O projeto deu certo e consegui a bolsa de estudos após dois meses.


Estabelecer uma rotina saudável, barata, disciplinada e produtiva. Era importante ocupar a cabeça, manter uma energia produtiva e saudável à minha volta. Continuei acordando cedo, comecei a correr e fazer exercícios na academia do prédio ou no parque pela manhã (tantos recursos gratuitos que não utilizamos normalmente), praticar meditação diariamente (baseada nas descrições que a Liz relata no livro), cozinhar minha própria comida utilizando receitas baratas e saudáveis e depois dividi as horas do dia entre estudo relacionado á pós-graduação, busca de emprego pela internet, cursos virtuais de Excel e outros temas profissionais (tem muitas opções gratuitas na internet).


Acionar todos os contatos que trabalhavam ou tinham contato com as empresas que eu gostaria de trabalhar. Avisei que estava disponível e enviei meu currículo atualizado.

Ser criativa no lazer. Me permitia momentos de lazer sim, claro! Mas foi uma época de criatividade buscando alternativas de lazer que não estivessem ligadas a consumo. E nessas horas para quem gosta de programas culturais, viver em São Paulo é um deleite! Caçava exposições, sessões de teatro, shows e museus gratuitos, ia conhecer parques e pontos turísticos que quem mora aqui nem sempre tem o hábito de ir.


E o mais importante, definir exatamente onde eu ia focar meus esforços de recolocação. Como meu objetivo estava relacionado com o mundo corporativo e eu queria ter a qualidade de vida que só as grandes multinacionais pareciam proporcionar, comprei então a revista com a lista das Cem Melhores Empresas para se Trabalhar e parti para o “ataque”. Apliquei-me no site de todas elas e busquei vagas através dos sites de busca de emprego. Botei na minha cabeça que agora eu entraria em alguma delas e ponto final. O que fosse preciso aprender para desenvolver um trabalho lá, eu aprenderia. Com isso, eu mesma fazia uma auto-análise após cada reprovação em entrevista para ver o que eu poderia melhorar.


Após cinco meses, treze reprovações em processos seletivos e uma promessa de seis meses de abstinência de refrigerante quando eu passasse, fui contratada para trabalhar na área de suprimentos de uma grande multinacional americana, uma das cinquenta melhores para se trabalhar, que no fim era a mais perto da minha casa e tinha o melhor clima organizacional que eu havia encontrado durante as entrevistas.


Lá estou há quase dez anos e sigo agradecendo todos os dias por ter conseguido alcançar meu objetivo além de muitas outras conquistas que vieram a acontecer depois também. Vivi muitas outras situações de protagonismo e aprendizado ao longo desses anos e quem sabe compartilho em outro post.


Recentemente, em outubro de 2017, eu fiquei afastada do trabalho por uma semana devido a uma conjuntivite. Durante esses dias de ócio (“Você não é o que faz no emprego, mas o que faz fora dele. É nas horas de ócio que alguém pode tornar-se mais culto ou mais ignorante” – já dizia Domenico di Masi em “Ócio Criativo” ) uma ideia começou a me cutucar insistentemente por dias me fazendo inclusive acordar durante a noite para ouvi-la. Uma ideia sobre expressão, inspiração, comunicação, sobre compartilhar, ajudar, desenvolver, construir, sobre independência e autonomia. Tomei nota e comecei a interagir com ela ainda de forma muito confusa.


E aí vem a Liz Gilbert de novo. Ela simplesmente surge regendo momentos de transformação interior que começavam a dar sinais e então vai me inspirando e me guiando pela estrada da mudança.


De repente, chegou até mim um novo livro esse agora com a capa em cores berrantes, chamado “Grande Magia – Vida Criativa Sem Medo”. E através dele acho que a Ideia e eu finalmente estamos começando a nos entender. Será que vem outra aventura pela frente?

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